Praticando a Percepção dos Pensamentos como Eventos Mentais

Praticando a Percepção dos Pensamentos como Eventos Mentais

O que pensamos não é a realidade externa, não é o que ocorre. Se pensamos que somos “inúteis”, não quer dizer que o sejamos. Se pensamos que o mundo é “horrível”, ou que tal pessoa é “má”, não quer dizer que seja assim, pois muitas outras pessoas têm uma visão diferente. Se pudermos separarmos a realidade, e os nossos pensamentos, não agiremos com base na informação errônea que nos traz a nossa mente.

As nossas interpretações dos eventos refletem o que levamos para elas tanto quanto o que efetivamente existe. Deste modo, podemos dizer que os pensamentos não são fatos.

As disposições de ânimo e os sentimentos são poderosas influências que moldam a nossa atitude mental – a lente através da qual nós percebemos o mundo. Isso, por sua vez, molda os nossos padrões de pensamento.

Nas disposições de ânimo, os padrões de pensamento frequentemente refletem temas semelhantes aos sentimentos que os moldaram. Por exemplo, sentimentos de desesperança conduzem a pensamentos de desesperança, sentimentos amáveis conduzem a pensamentos benevolentes, e assim por diante. Sendo assim, os sentimentos dão origem a padrões de pensamento relacionados.

Quando os temas dos sentimentos e pensamentos se entrelaçam dessa maneira, esses padrões de pensamento recriam os sentimentos que os moldaram originalmente. Além de manter os sentimentos ativos, o estreito vínculo entre os sentimentos e os pensamentos faz com que os pensamentos pareçam bastante reais.

Segue abaixo três maneiras de praticar a percepção dos pensamentos como eventos mentais:

Alternativa 1: Torne os próprios pensamentos o foco principal da sua atenção. Assim como, no caso da atenção aos sons, em que você dirige a consciência para quaisquer sons que surjam, notando quando eles surgem, se desenvolvem e vão embora, de modo semelhante, leve a consciência para os pensamentos que surgem na sua mente exatamente da mesma maneira. Você pode levar a consciência para os pensamentos com as seguintes imagens ou metáforas:

  • Como se eles fossem projetados na tela do cinema. Você se senta, observando a tela, esperando que um pensamento ou uma imagem surja. Quando isso acontece, você presta atenção a ele enquanto ele estiver “na tela”, e depois você o abandona quando ele desaparece.
  • Como se a mente fosse um vasto e amplo céu, e os pensamentos fossem nuvens ou pássaros que passassem por ele.
  • Como se os pensamentos fossem folhas se deslocando em um riacho, carregadas pela correnteza.

 

Para começar, tenha a intenção de praticar tendo os pensamentos como o principal objeto de atenção por não mais do que 3 ou 4 minutos de cada vez, tendo em vista que as pessoas não acham fácil prestar diretamente atenção aos pensamentos dessa maneira. Sinta-se à vontade para explorar outras imagens ou metáforas ou simplesmente não explorar nenhuma.

Alternativa 2: Quando você se der conta de que a sua atenção se afastou do foco planejado (respiração, corpo, som etc.), faça uma pausa longa o bastante para reconhecer quaisquer pensamentos, imagens ou memórias que estejam presentes. Em seguida, diga “pensando” para si mesmo, com muita calma, como um lembrete para que você encare esses pensamentos como pensamentos e, do modo mais gentil e delicado que você puder, leve a atenção de volta para o foco planejado de respiração, corpo, som etc.

Alternativa 3: Quando você notar que os pensamentos têm uma forte carga emocional, ou que eles parecem importunos ou persistentes, você pode se lembrar de que as emoções são “pacotes” de sensações físicas, sentimentos e pensamentos correlatos. Reconheça, por um breve intervalo, os pensamentos como pensamentos. Depois, “mergulhe” debaixo dos pensamentos, para explorar, no corpo, a sensação percebida da emoção que fez surgir os pensamentos. Leve a consciência para a região do corpo em que essas sensações são mais intensas – você pode ter uma atitude compassiva e de abertura a essas sensações desagradáveis.

Fonte: Teasdale, Willians e Segal

“Quem pratica atenção plena dos seus pensamentos vive melhor”

Alexandre Alves – Psicólogo Clínico
CRP 05/39637