Nos últimos anos, os achados científicos têm corroborado a hipótese oriental da importância do corpo para o nosso equilíbrio. Já foi demonstrado que as percepções interoceptivas (do interior do corpo) modificam de forma significativa nossos pensamentos e emoções.
Do ponto de vista de mindfulness (atenção plena), o corpo e a respiração são chaves, pois estão sempre no presente, objetivo essencial da meditação. É por essa razão que são considerados as principais âncoras da prática.
A atenção e consciência no corpo nos permite focarmos nas sensações corporais da emoção, o que nos permite desativar os pensamentos negativos associados e atenuar os principais sintomas corporais das emoções.
Antes de começar esse exercício, pense em uma dificuldade que está experimentando agora. Não tem de ser uma dificuldade importante, mas escolha algo que ache desagradável, algo que não esteja resolvido. Pode ser algo que você esteja preocupado, uma discussão ou mal entendido que tenha tido, algo que lhe cause raiva, ressentimento, culpa ou frustração. Se nada estiver acontecendo, pense em algum momento no passado recente em que você tenha se assustado, preocupado, frustrado, ressentido, com raiva ou culpado, e use isso.
Perceba a maneira como está sentado na cadeira ou no chão. Perceba onde seu corpo está tocando na cadeira ou no chão. Traga sua atenção para a respiração por um momento. Perceba a inspiração…e a expiração…Agora, amplie suavemente sua consciência, aceite o corpo como um todo. Perceba qualquer sensação que surgir, respirando com todo o seu corpo.
Quando estiver pronto, traga à mente qualquer situação que venha lhe gerando emoções difíceis. Traga sua atenção às emoções específicas que surgem e a quaisquer reações que você tenha e essas emoções. E, à medida em que se concentra nessa situação preocupante e em sua reação emocional, permita-se entrar em sintonia com todas as sensações físicas no corpo, que você perceba que estão surgindo…conscientize-se dessas sensações físicas…então, de forma deliberada, mas suave, direcione sua atenção a região do corpo onde as sensações são mais fortes no gesto de um abraço, um acolhimento…observe que é assim que é agora…e inspire naquela parte do corpo na inspiração e expire daquela parte na expiração, explorando as sensações, observando sua intensidade aumentar e diminuir de um momento para o outro.
Agora, veja se consegue trazer para essa atenção uma atitude ainda mais profunda de compaixão e abertura a quaisquer que sejam as sensações, os pensamentos ou as emoções que estiver enfrentando, por mais desagradáveis que sejam, dizendo a si mesmo, de vez em quando: “Certo. Seja o que for, já está aqui. Vou me abrir a isso”.
Fique com a consciência dessas sensações internas, respire com elas, aceite-as, deixe-as ser e permita que elas sejam exatamente como são. Diga a si mesmo novamente, se você achar que é útil: “Está aqui agora. Seja o que for, já está aqui. Vou me abrir a isso”. Relaxe e se abra para a sensação de que você se conscientiza, deixando de lado qualquer tensionamento e contenção. Se quiser, você também pode manter na consciência tanto as sensações do corpo quanto o sentimento da respiração entrando e saindo, à medida que respira com as sensações, momento a momento.
E quando perceber que as sensações corporais não estão mais atraindo sua atenção no mesmo grau, basta devolver 100% para a respiração e continuar com isso como principal objeto de atenção. A seguir, traga delicadamente sua consciência para a forma como está sentado na cadeira, para sua respiração e, quando estiver pronto, abra os olhos.
Fonte: Williams, Teasdale, Segal e Kabat-Zinn
Alexandre Alves – Psicólogo Clínico
CRP 05/39637